Nome de família

Família Alencar

O primeiro Alencar chegou no Brasil em meados do século XVIII. Chamava-se Leonel, morador de São Martinho de Arrueira, no arcebispado de Braga. Chegou em companhia de dois irmãos, Alexandre e João Francisco. Depois de estabelecido, voltou para Portugal e trouxe uma irmã de nome Maria, que se casou com Valério Coelho Rodrigues.

Leonel de Alencar foi um desses homens, talhados para as árduas lutas dos árduos sertões. Fundou as fazendas Várzea Grande e Caiçara, nas margens do rio Brígida, onde criou bois e vacas. O rio Brígida nasce no município de Exu, no sertão de Pernambuco e, deságua no São Francisco, depois de um percurso de 160 km.

A família Alencar se espalhou por todo o Brasil. Alguns membros desta clã são importantes. Como exemplos, citamos; Bárbara Pereira de Alencar, Tristão Gonçalves de Alencar e José Martiniano de Alencar, heróis da Revolução Pernambucana de 1817 e da Confederação do Equador, de 1824; Brígida de Alencar, protetora dos índios cariris e das populações indígenas de Exu e redondezas; senador José Martiniano de Alencar,  presidente do Ceará;  José Martiniano de Alencar (mais conhecido como José de Alencar), jornalista, advogado e escritor, autor de  “O Guarani”, “Lucíola” e outros romances famosos; Leonel Martiniano de Alencar, aristocrata do Império e  importante diplomata brasileiro. Igualmente célebres são Marcelo Nunes de Alencar (prefeito do Rio de Janeiro e governador do estado); Miguel Arraes de Alencar (prefeito de Recife e governador de Pernambuco), Humberto de Alencar Castelo Branco (presidente do Brasil), Eduardo Campos (ex-governador de Pernambuco, falecido em 2014) e Rachel de Queiroz (professora primária, autora  de “Os Quinze”, “João Miguel”, “Caminho de Pedras”, “Dora, Doralina” e outros livros famosos). A bisavó de Rachel de Queiroz era prima, pelo lado materno, de José de Alencar.

O patriarca da família Alencar em Sergipe  é o poeta, advogado provisionado e jornalista Clodoaldo de Alencar, nascido em Quixadá (Ceará) que chegou pelas mãos de Gracho Cardoso, em 1922.
                                                                                                    (da série Filhos Ilustres de Sergipe)


 

(Eurydice Fontes de Alencar; o poeta Clodoaldo de Alencar; Fontes de Alencar com o irmão Leonardo Alencar, em 2013; com os irmãos Hunald de Alencar e Clodoaldo de Alencar Filho, em 2015; com o irmão Jessé Cláudio de Alencar, a filha caçula Daniela e o amigo Serapião, em 1989)

Sobre Clodoaldo de Alencar

‘Envidei ciclópico esforço, com vistas a esboçar uma sinopse de sua biografia, mas a fecundidade, a versatilidade e plurilateralidade das ações do meu titular, impediram-me de desenvolver um estudo mais profundo. Para a minha diminuta capacidade, discorrer sobre o bardo Clodoaldo de Alencar, é tão honroso, quanto árduo. A noite seria pequena para tantas informações.

Nasceu o mencionado homem de letras e operador do Direito, em 2 de agosto de 1903, no município de Quixadá, interior do Ceará.

Da sua vida familiar, sabe-se que este filho do jornalista piauiense Cláudio Gomes da Silva e Maria Gomes de Alencar, tinha como ancestrais, de quem muito se orgulhava, Bárbara de Alencar, o romancista José de Alencar e o Barão de Alencar.

Casou-se em Estância com uma filha do Dr. Jessé  de Andrade Fontes, a jovem Eurydice de Andrade Fontes, que passou a chamar-se D. Eurydice Fontes de Alencar. Da união conjugal nasceram sete rebentos (termo que Clodoaldo gostava de usar): Jessé Cláudio Fontes de Alencar; Clodoaldo de Alencar Filho, meu Reitor, quando aluno da UFS; Luiz Carlos Fontes de Alencar, meu Professor, quando aluno também da UFS,  chegando a ser destacado Ministro do Superior Tribunal de Justiça; Iracema Fontes de Alencar, falecida com apenas três anos; José Geraldo Fontes de Alencar, falecido em 4 de janeiro de 1963, com 26 anos; Leonardo Fontes de Alencar;  e Hunald Fontes de Alencar.

Com menos de dezoito anos, a convite do sergipano Dr. Maurício Graccho Cardoso, padrinho de sua irmã Selma, aportou em Aracaju a bordo do navio “Itaituba”, da Companhia Costeira, no dia 12 de outubro de 1922.

Recepcionado no cais pelo Prof. José de Alencar Cardoso e o então Prefeito da Capital, Antônio Baptista Bittencourt, foi conduzido ao antigo Hotel Internacional, na Rua João Pessoa, lá permanecendo até começar a trabalhar na Imprensa e, depois, tornar-se Promotor de Justiça. Mais tarde conhecido por Hotel de Rubina, o estabelecimento situava-se exatamente onde se ergue, hoje, o nosso Tribunal de Justiça.

Lá conheceu Procópio Ferreira, Vanda Lacerda, Milton Carneiro, Iracema de Alencar, Ítalo Curcio, além de outras figuras do teatro brasileiro. Morador da Praça Fausto Cardoso, aproximava-se de toda e qualquer Companhia que chegava, pois, ainda garoto, já adorava o meio artístico.

O Hotel Sul-Americano, atual Assembleia Legislativa, também abrigava cultores das artes e, pela pequena distância, Clodoaldo dizia que, para ele, era “sopa no mel”. Assim, chegou a conhecer o Coral de Pamplona e o Quinteto de Sopros Alemão.

Citava como artistas daquela época: Jordão de Oliveira, Rubens Figueiredo e o Prof. Quintino Marques, avô da nossa poetisa Núbia Marques. Os homens de imprensa com quem manteve contato foram: Gervásio de Sá Barreto e Apulchro Mota.

Embora tenha sido auxilar de dois Governos: Graccho Cardoso e Luiz Garcia, era habilmente evasivo, quanto a conversa resvalava para a órbita política. Não gostava do tema. Aqui e alhures, de forma muito discreta, revelava certa admiração por Plínio Salgado, mas tão-somente como escritor.

“Nunca fui político partidário, por falta de vocação. O mister da minha vida consiste na educação dos meus filhos e no aprimorar dos meus conhecimentos literários”, dizia com frequência.

Quando questionado acerca da condição de sergipano adotivo, soía declarar: “Hoje, Sergipe é parte de minha vida. A estima que todos me têm, consolida a minha permanência em Aracaju. E o Ceará, a quem tanto amo, admiro e de quem sinto tanta saudade, admitiu, por não reclamar a minha ausência ou minha presença, que se operasse o fenômeno de usucapião aqui em Sergipe”.

O passar do tempo, aliado à rara inteligência, foi metamorfoseando, por tamina, o espírita convicto num ser humano acima das contendas, dos sentimentos menores que acometem os terrícolas, crendo na existência de um Ponto Superior a partir do qual todos os problemas seriam equacionados.

Acreditava piamente na vida após a morte. “Meu filho, a morte não existe. Apenas trocamos de roupa”, repetia exaustivamente.

Como quase todos os racionais, o Poeta sob referência também sofreu rudes golpes desferidos pelo destino: o exício (ou desencarnação, como preferem os espíritas) de seus pais Cláudio e Maria, além dos filhos Iracema e José Geraldo.

Até nesses momentos cruciais, a verve poética do nosso Clodoaldo se fazia presente.

Para José Geraldo, escreveu uma série de CARTAS-POEMA A GERALDO, todas retratando a visão kardecista sobre a morte.

Eis a de número III, em forma de soneto.

Dias antes do epílogo do drama
que culminou com sua eterna ausência,
eu lhe mostrei, GERALDO, o panorama
que aguarda a todos nós na Outra Existência.

E você, fronte erguida, olhar em chama,
portador de invulgar inteligência,
gostou da Tese da Sobrevivência
fora do mundo mergulhado em lama…

E, agora, libertado da matéria,
você comprova, na amplidão sidérea
o são princípio da Imortalidade.

Assim, o seu espírito piedoso,
hoje em dia mais puro e luminoso,
praticará  melhor a Caridade.

Seu amor pelas letras teve início no Grêmio Literário “Paula Nei”, em Fortaleza, quando, aos quinze anos, ingressou naquela instituição e lá recebido pelo escritor Edigar de Alencar.

Publicou seus primeiros versos no jornalzinho do Grêmio, intitulado “O Regional”. A partir daí, não parou mais de produzir versos e mais versos.

Exerceu atividades jornalísticas junto aos periódicos: A Estância, A Razão (em Estância), berço da imprensa sergipana; Correio de Aracaju, Estado de Sergipe, A Cruzada, Sergipe Jornal, O Nordeste, A Voz do Povo (em Aracaju); além de outros dentro e fora do Estado.

Sua participação na imprensa escrita não se limitou à divulgação de suas poesias. Publicou ainda crônicas, artigos e ensaios.

Além disso, costumava traduzir poemas do Francês e do Espanhol para o Português e vice-versa.

Era membro do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, da Associação Sergipana de Imprensa, do Clube de Poesia e da Academia Sergipana de Letras.

No grêmio dos Imortais ocupava a Cadeira nº 34, que tem como Patrono Manuel Ladislau Aranha Dantas. Seu antecessor foi Olegário Silva.

Desencarnou em Aracaju, no dia 9 de agosto de 1977, legando aos pósteros uma herança literária que, além de um sem-número de poesias, inclui as obras: Archotes; Os mais belos troféus de Heredia; e Orós.

Para a vaga resultante do seu desaparecimento, foi eleita a poetisa, romancista, jornalista, assistente social e professora universitária Núbia Marques.

Precursor da luta pelo ingresso feminino no Sodalício, sua substituição pela Profª. Núbia, trouxe grande alegria para toda a família e, por certo, para ele também.

Quiçá, continuou “trabalhando” para isto, no outro lado da vida!

Enfim, Senhoras e Senhores, este é o Clodoaldo de Alencar, um “cearensergipano”, – perdoem o atabalhoamento do neologismo – como nós outros que lhe sucedemos, nesse êxodo, ensejando a criação da CACESE – Casa do Cearense em Sergipe. Ufano-me de ser atualmente, até onde se sabe, o terceiro elemento mais antigo dessa corrente imigratória….’

(Texto extraído do discurso de posse de Francisco das Chagas Vasconcelos | MAC – Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras)


O artigo de Fontes de Alencar: Clodoaldo de Alencar – O Poeta de Archotes e Orós

Organizada pelo erudito Nonato Silva veio a lume, em 2012, Poetas da Construção de Brasília – Origem da Literatura Brasiliense. Apresenta-a o jornalista e acadêmico Jarbas Silva Marques. Em sua seleta o benemérito ideador da revista brasília mostra dois segmentos: a) poesias publicadas no mencionado periódico; e b) as que ali não tiveram divulgação. Entre as da primeira seção, Hino à Cidade de Brasília – de Clodoaldo de Alencar:

No planalto central da Terra Brasileira,
abres, como heliotrópio, em milagre divino,
as pétalas da luz cujo excelso destino
é  a focalização de uma Nação inteira!

E o Progresso virá, cantante e cristalino,
Como água perenal descendo a cordilheira,
Com  colaboração dessa gente estrangeira,
Deslumbrada  ao fulgor de um clarão  matutino …

No teu leque gigante e aberto, das estradas,
hão de tremeluzir reticências doiradas
de  veículos mil, em vaivéns  trepidantes.

E serás – ó Brasília   – aos olhares do mundo,
não  apenas matriz de trabalho fecundo,
mas  também a Canaã dos Êxodos constantes!

Clodoaldo de Alencar (1903-1977), quixadaense, chegou a Sergipe acompanhando Gracco Cardoso, sergipano de Estância, mas com vivência na política cearense, tornado ao chão de nascença para ocupar a Presidência do Estado nos idos de 1922. O jovem   filho da terra do sol, do amor, terra da luz – à letra o verso  de Thomás Lopes (1879-1913) no Hino do Ceará – desde ali fixara-se  em Sergipe, o terreno que Santa Rita Durão assim celebrou em Caramuru – Canto VI, estrofe LXXVI:

Palmas, mangues, mil plantas na espessura,
Não há depois do céu mais formosura.

Autodidata e poeta, em 1933 entregou ao público Archotes (Aracaju: Editora Casa Ávila) de que extraio Violino de Luz:

Silêncio!  ai vem essa que é seda, pluma
e limalhas de sonho…  pois   é leve,
leve,  tão leve, que nem mesmo a neve
a  poderá beijar de forma alguma.

De branco; branca como a branca espuma..
branca,  tão branca, que se não descreve
È a reticência de uma frase breve…
Seduz, comove, encante e, até, perfuma.

O que mais, no  entretanto, me extasia,
não é o olhar , o ritmo de arminho
que tem na voz de célica harmonia,

é o corpo, ondeando em plena mocidade
– violino luminoso ao luar de linho,
solando a valsa da Felicidade…

Em 1957 Clodoaldo de  Alencar alçado membro da Academia Sergipana de Letras, saudou-o, quando de sua posse, o renomado Hunald Santaflôr Cardoso, que relembrou  o aplauso entusiástico recebido pelo poeta quando surgiu Archotes, louvação de prestigiados críticos como João Ribeiro e Carlos Chiacchio.

No ano de 1961 publicou Orós (Aracaju: Livraria Regina), poemário que contém A Pérola,obra de extremo  esmero,  a respeito da qual Anderson Braga Horta, insigne no sonetear, escreveu:

Clodoaldo de Alencar lavrou uma obra prima. Ouvido, soou-me magnífico o soneto. Lido, continua esplêndido.

Eis a celebrada peça:

Na montra azul do mar, sobre o lençol de argila,
que a tintura do lodo há milênios encarde,
 – desde que nasce a aurora e morre, em sangue, a tarde,
sob a equórea pressão a pérola cintila.

A onda, espúmea e revel, que ora avança e vacila,
no evasivo correr de alva  Ninfa em alarde
e em cujos ombros nus o ouro dos astros arde,
não lhe rouba, sequer, a postura tranqüila.

O estojo em que ela fulge o homem-do-mar presume
e, num mergulho audaz, vai procurá-la em torno
às rosas de coral dos jardins sem perfume.

Depois, rompendo o leque a mil sargaços, bóia,
trá-la, fá-la viver presa a colo alvo e morno:
– jóia fina a pompear no engate de outra jóia.

A essas coleções sobreveio Os Mais Belos Troféus de Heredia (Aracaju: Livraria Regina, edição bilíngüe, 1968) em que se acham, vertidos para a língua portuguesa por Clodoaldo de Alencar vinte e oito sonetos extraídos de Les Trophées (Paris: Librairie Alphonse Lemesse, 1893) de José-Maria de Heredia. O grande poeta em Cuba nascido, mas titular da Academia Francesa, ofereceu sua obra  a Leconte de Lisle. Daquele conjunto de produções parnáseas mostro dois sonetos heredianos e respectivas traduções clodoaldinas:

A UNE VILLE MORTE
Cartagena de Indias
1532 – 1583 – 1697

Morne Ville, jadis reine dês Océans!
Aujurd’hui le requin poursuit em paix les scombres
Et Le nuage errant allongue seul des ombres
Sur ta rade ou roulaient lês galions géants.

Depuis Drake et  l’assaut dês Anglais mécreánts,
Tes mjurs désemparés croulent em noirs décombres
Et, comme um glorieux collier de perles sombres,
Des boulets de Pointis montrent les trous béants.

Au somnolent soleil d’um midi monotone,
Tu songes, ô Guerrière, aux vieux Conquistadores; 

Et dans l’énervement dês nuits chaudes et calmes,
Berçant ta gloire éteinte, ô Cité, tu t’endors
Sous les palmiers, au long frémissement des palmes.

A UMA CIDADE MORTA

Pobre  Cidade,  outrora  Imperatriz dos Mares!
Tem, hoje, o tubarão, em paz, as tuas ruínas
e a nuvem, que erra, alonga as sombras peregrinas
sobre o túmulo azul dos galeões singulares!

Desde Drake e a invasão dos ímpios militares
ingleses, estão ruindo os muros que dominas,
e, glorioso colar peróleo, a que te inclinas,
das balas de Pointis mostras crivos e algares.


Família Fontes


Dr. Jessé de Andrade Fontes, avô de Fontes de Alencar, pai de Eurydice Fontes de Alencar

Médico de reconhecida competência, Dr. Jessé de Andrade Fontes teve destacada atuação para o desenvolvimento da ciência médica no sul do estado, especialmente em Estância, onde exerceu a profissão com humanismo e dedicação, como clínico e cirurgião. Até 1950, a medicina era una, indivisível, não havia especialidades médicas bem definidas como se verifica ( até exageradamente) hoje. Vigorava o princípio da medicina generalista, completa, dentro do conceito da integral humana: um só órgão, que é o corpo, e uma só função, que é a vida, como dizia Garcia Moreno, na crônica “Strip-tease médico”, escrita em 1960, denunciando a  superespecialização e a segmentação exagerada da medicina.

Jessé exercia a prática médica global, “da cabeça aos pés”, utilizando os precários meios de transporte de então para atender aos mais necessitados, não só em Estância, como também em Santa Luzia, Arauá, Itabaianinha e outras cidades do sul de Sergipe.

Nasceu Jessé Fontes no antigo engenho Mãe de Deus do Amparo d’Areia, em Arauá, em 29 de novembro de 1881, filho do Capitão Felisberto Fontes de Melo e D. Anna de Andrade Fontes (Donana), sua segunda esposa. Ambos eram viúvos. Com a tenra idade de 22 anos, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 22 de dezembro de 1903, defendendo a tese “Estudo da síndrome da porção espinhal do feixe piramidal”. A partir de 1904 estabeleceu sua clínica em Estância, atuando ao lado de Josaphat  Brandão, continuando a obra de João Vieira Leite, outro médico de muita importância na vida de Estância, mas que teve morte prematura, com apenas 35 anos de idade. Exerceu a arte médica no Hospital Amparo de Maria, do qual foi diretor.  Na epidemia de gripe espanhola, acontecida em 1918, teve destacada atuação bem como no atendimento aos náufragos  vítimas do torpedeamento dos navios brasileiros pelos submarinos alemães na Segunda Guerra.

Sua atuação no entanto foi além da ciência de Hipócrates. Católico convicto, nutria ainda  a paixão pela educação. Ensinou em vários estabelecimentos, em completo devotamento ao ensino. Assim, assumiu posteriormente funções administrativas como Delegado de Ensino, Inspetor Escolar e Diretor do Grupo Escolar Gumercindo Bessa. De formação erudita, lia, escrevia e falava fluentemente o inglês e o francês.

O intelectual Urbano Neto, na oração proferida por ocasião das comemorações alusivas ao primeiro centenário de nascimento do nosso enfocado, revela um episódio interessante.  Lia Jessé  um determinado texto durante uma aula na vetusta Faculdade de Medicina da Bahia, a pedido do professor da cadeira, quando este o interpelou: “Sr. Jessé, eu não sabia da existência deste livro em português”, ao que ele retrucou: “Eu também não sei se existe, este mesmo é em francês.” “O senhor então fez uma tradução primorosa”, afirmou o titular da cátedra. Disse-lhe por fim, Jessé: “Aprendi na minha terra.” Segundo ainda Urbano Neto, era comum na Bahia falar-se mal da instrução em Sergipe.

Jessé era um homem muito festeiro, orador contumaz, um grande dançarino. Promovia inúmeras festas e espetáculos culturais. Destacou-se como orador oficial da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, da qual foi um dos seus fundadores, em 1911, entidade precursora da atual Somese, ao lado do médico e intelectual Helvécio de Andrade.

Faleceu em 31 de agosto de 1961, com 79 anos, assistido pelo professor Antonio Garcia, nas dependências do Hospital de Cirurgia, sendo sepultado na sua querida cidade de Estância.

(Texto extraído da coluna de Lúcio Antônio Prado Dias)